Quando tudo está no seu lugar…

Sejamos ou não adeptos de uma arrumação aprimorada, a verdade é que quando entramos num sítio onde as coisas estão no lugar, sentimos que tudo está bem.
E o estar no lugar não tem necessariamente de corresponder à ciência exata e milimétrica do que é que fica onde, qual expectativa de adoração, qual adepto da museologia.

Apenas tem de estar lá. Ser sentido no seu lugar. Ser confortável.

E se é assim com as coisas de coisas, porque seria diferente com as coisas do ser, da essência das gentes, do profundo do humano?
Passamos muitas vezes de armário a prateleira, umas temporadas na gaveta, ora em exposição na vitrina clássica herdada de alguém longínquo.
Replicamos ensinamentos e responsabilidades passadas em testemunho. Trabalhamos incansavelmente para expectativas que nem sabemos de onde surgem.

A verdade é que quando olhamos para o lugar onde nos encontramos, com uma profunda atenção, nem sempre sentimos o tal conforto de que tudo está no seu lugar.

Há coisas que acumulam e crescem em nós, connosco. Coisas que nem reconhecemos. Nem sequer ousamos lembrar quando passou a pesar na nossa mochila.

Às vezes olhamos para esta mochila que carregamos incansavelmente e ela está cheia de nada e vazia de tudo.
Acumulam-se as coisas. Mas não nos reconhecemos nelas.
Como se algures no tempo, tivéssemos confundido a mochila e numa viagem apressada trocássemos com outro transeunte.

O que também é verdade, quando os nossos muitos “eus” se engalfinham no vai e vem das muitas vidas (que nem só os gatos tem).
Os “eus” afirmados e os que se escondem na sombra da cortina, muitas vezes ansiando o palco, apenas à espera de um acto de audácia para ir e deslumbrar.
Qual vitória na superação.
Qual mochila revirada e esvaziada do que não interessa.
Qual casa que depois de desarrumada ganha novas cores, novos aromas e novas coisas.

Às vezes as coisas estão no seu lugar, estando no lugar que pensávamos que não era o delas.
Por vezes o que outrora foi desarrumo, nos conforta, nos enche o coração de felicidade.
Por vezes nem vimos o desconforto, só sabíamos que faltava algo.

Porque… às vezes só temos de ter um único momento de protagonização.
Aquele em que perguntamos com toda a humildade e sinceridade quem somos na nossa mais ecológica essência.
Despidos.
Desmaterializados.
Desconectados.

Quando a pergunta é sincera. A resposta também se revela na sua maior integridade. Surge como sempre fosse a meta a alcançar.
Deixa-nos em deslumbre sem nos deslumbrar.
Dá-nos nova vida, sem retirar a que antes ocupava aquele lugar.
Tudo soma.
Mas tudo subtrai.

E resulta na solução mais prudente, mas também a mais audaciosa.

Queres experimentar colocar-te a questão?

Com amor,
Judite <3