Precisamos olhar mais para a saúde mental

3 de Julho de 2022, é a data desta foto.

Saí de casa uma hora mais tarde que o planeado, porque adormeci.

Cheguei a Sintra mesmo em cima da hora de almoço, apesar de ter combinado com o meu irmão de alma, que estaria mais cedo.

Entre o reboliço de chegar e a hora de refeição estar no limite, saímos para comer qualquer coisa, por ali perto.
Ele olhou para mim, sempre sábio além das minhas partilhas, e mudou os planos, surpreendendo-me com este terraço numa experiência de cozinha viva, orgânica, salutar, e esta vista sobre o mar de Cascais.

Após o almoço e um pouco vaguear pela vila, eu quis recolher em casa, e assim ficámos, em modo netflix, tarde a noite dentro. Em pleno silêncio. Em muita cura. Sem qualquer questão. Apenas aquela companhia com o toque “vai ficar tudo bem”

Hoje, a falar com uma outra pessoa, sobre saúde mental, apercebi de 2 coisas:

– uma, que não agradeci ao meu querido amigo pelo colo que me deu, sem sequer apontar nada, apenas lendo-me tão bem, como sempre faz.

– outra, que apesar de repetir para mim mesma que não tenho uma crise desde 2014, essa não é a verdade.

Apercebi hoje, que eu apaguei o mês de junho de 2022 da minha mente, durante todo este tempo.

E que fiz isso, desde aquela viagem, inevitável pela condição inegociável de entregar uma formação no dia seguinte.

Apenas o meu parceiro profissional sabia a situação, pela necessidade de gerirmos aquela entrega se serviço.
Não partilhei o tormento incapacitante que me percorria o corpo e a mente, com mais ninguém. E a situação foi sendo escondida pelos dias a correr e pela tentativa de abraçar tudo a tempo.

Gerada por sobrecarga e acreditar que posso sempre mais um pouco, num período em que fiquei sem suporte e fui surpreendida por algo que podia ter evitado, mas relevei, tendo de resolver sobre adrenalina.

Adrenalina que o meu corpo biologicamente não sabe gerir. E que eu tenho conhecimento das consequências.
Após 8 anos sem crises, baixei a guarda.
Esqueci como o meu corpo e mente se perdem nas emoções quando isso acontece.

Não desejo a ninguém viver num corpo que precisa de ajuda externa para fechar a torneira da adrenalina.

Mas talvez eu precisasse de rever como é viver neste corpo para revalorizar tanta coisa esquecida em mim.

Essa situação repetiu por estes dias, por não ter repousado o necessário na altura e me ter tido de confrontar com algumas questões que não estava emocionalmente preparada para lidar.

Olhando para trás, desde a semana passada que tenho agido que nem louca, após um gatilho que me fez disparar o coração, numa situação que partilhei aqui convosco e podem reler.

Com isto, sentei-me esta noite a observar as minhas fotos das últimas semanas.
E ao ler algumas partilhas de Junho-Julho.
Algumas trazem um desastre de profunda alma desgastada em dor e alguma insanidade, que não tinha consciência, até hoje.
Se as leram, terão percebido, decerto, como a minha escrita esteva diferente. Incoerente. Sem amor.

Hoje, ao conversar com outro empreendedor sobre a minha opção de manter mais que um negócio, e na conversa que tive sobre esta situação, do que cada um deles me dá para o equilíbrio emoção-razão / paixão-estabilidade, dei por mim a dizer-lhe:
“sou doente emocional, sofro de ansiedade crónica”.

Fazia anos que não usava o “sou”.
E ao rever o que disse, atentei que a minha alma em verdade está mais consciente que o esgotamento que me pôs em lupo desde o final de maio e em baixa aquelas últimas semanas de Junho ainda não estabilizou.

E eu não tinha percebido isso.

Hoje, partilho isto, porque não poderia continuar a repetir uma inverdade de que as ferramentas que tenho me salvaram irrepreensívelmente desde 2014.

Mas posso dizer com certeza que evitaram que neste cansaço em que me descuidei de mim, para cuidar de outros, as consequências não foram maiores, pela existência das mesmas.

Só poderei estar em verdade com os meus clientes, alunos e formandos, reconhecendo por inteiro a fragilidade real.

Reconhecendo que há coisas que pedem que abrande.
Outras que renuncie.
Sob a pena de mergulhar num estado de menos saúde.

Levamos a saúde mental muito de leve.
E parece mal dizer que não, principalmente em determinados circuitos como o profissional.

E dizer que não, é dizer que somos prioridade em nós mesmas. E não há compromisso ou contratação melhor e que exija a nossa maior entrega, no mundo, que nos colocarmos em prioridade.

E isso, é o grande e mais importante caminho para a cura.

A vida é interessante na medida em que nos vai dando as respostas no momento que estamos prontas para escutar.

Neste últimos dias tenho estado atenta a várias mensagens que me tem chegado à consciência.
Que tenho partilhado aqui todas, convosco.

Estejamos disponíveis para abraçar a mensagem que nos vai chegando.

E acima de tudo, para reconhecermos sinais e não termos vergonha de os partilhar abertamente, quando precisarmos de ajuda.

Na verdade, eu poderia ter evitado tudo isto.

Poderia ter pedido um abraço de apoio no momento certo.
Poderia ter partilhado as minhas preocupações com as pessoas que me rodeavam.

Quis mostrar ser mais forte do que estava a ser de verdade.

Isso custou-me muitas perdas. Algumas irremediaveis.

E também muito mais aprendizagem.

No fundo entre o pesar do que perdi nestas semanas.

Fico grata ao que aprendi mais sobre mim, relembrando o que é viver neste corpo biologicamente perfeito na sua imperfeição que serve ao meu propósito.

E que, nessa consciência possa ajudar com mais memória recente, deste sentir, a todos os que me procuram para aprender a curarem em si, isto mesmo.

Com amor e de peito aberto,
Judite