Inspiração em quem faz parte de mim
‘Com jeito para taberneira, desde pequenina’
Podia ser esta a legenda dessa foto.
Só que não.
Há muito mais do que isso.
Daqui a 2 semanas é o meu aniversário.
Quem por aqui anda e me conhece bem, sabe como adoroooo o aniversário.
Este ano, e porque passei recentemente um momento de angústia no peito e coração partido, perdi-me a pensar no que vou fazer nesse dia.
Há anos que viajo, outros, como no ano passado, faço uma festa de 3 dias, e desloco pessoas para a grande celebração da minha vida.
Ainda me recordo quando em 2007 em Évora no meu último ano de faculdade e o meu primeiro ano de trabalho, enchi a república onde vivia com amigos, colegas de faculdade e trabalho e tantas pessoas, muitas que pausaram as suas férias para se deslocarem ali, apenas para a grande festividade.
Não me recordo de todas as dezenas de pessoas sentada por toda a casa, nos passeios da Rua de Manchede fora, mas sei que, estar rodeada de pessoas que me querem tão bem, a festa se fez a ela mesma.
No ano passado fiz um feito idêntico. Com menos pessoas, mas “arrastei” amigos, país a cima, e de Évora me chegou a Amy.
E da última viagem de aniversário, em 2019, dividida de celebração entre a minha ilha (Mallorca) e a minha segunda cidade de coração (Barcelona).
Estes momentos estão tão presentes em mim.
Estão tão presentes como os longos almoços que a minha família adora fazer (aliás de ambos os lados). Domingo inteiro à mesa. Muitas conversas. Um pouco choro. Abundância de riso.
Acho que é daí que vem o meu gosto por pessoas à mesa, em festa, por aniversários animados e bem celebrados.
E no meio destes almoços lembro-me de um inverno de 2000. Que nada tem a ver com aniversários.
Pela primeira vez, e devido a uma diferença geográfica que implicava encontros em horários diferentes dos habituais, contei ao meu pai sobre um namorado: “pai, tenho um namorado” gerou a única vez que vi o meu pai chorar.
No dia seguinte era domingo e lá estávamos, com a minha família materna.
Na mesa comprida que abrigava os 20 e muitos que ali se juntavam, todos com lugares fixos marcados, para todos os encontros, o meu avô sentava-se num topo.
E eu ao lado dele.
Ao pedido de sair mais cedo do ajuntamento para ir a uma tarde romance, recebi um redondo “não, não sais hoje!” do meu pai, que prontamente lançou ali o muro das lamentações sobre o meu futuro, a minha inocência ( mal sabia ele de como eu já conhecia o amor em várias formas).
O meu avô olhava para mim e encolhia o sobrolho.
O meu pai continuava a argumentar que era muito nova para perceber, que aquilo era de pouca dura, e que não valia o tempo, e que devia dedicar-me a outras metas e focos.
Mas eu sentia aquela pessoa tão minha. Tão visceral, desde o primeiro beijo. E sabia de tal forma como o meu pai estava errado, quanto eu sentia o fogo de um amor adolescente dentro de mim.
Num rasgo das minhas raivas, em que contesto visceralmente numa birra de grito e bater porta, saí para o jardim e sentei na longa escadaria a chorar.
E o que se disse nestes minutos a seguir, conto-os pela primeira vez, pois jamais os tinha partilhado com alguém, nem com as detentoras eternas das minhas partilhas mais intimas ( como é a minha irmã).
Pouco depois, o meu avô aproximou-se de mim.
Olhou para mim e disse-me: ‘O teu pai não percebe nada sobre amor. Se tu sentes, sentes. E vais, porque quem manda aqui sou eu!”
Não interessa quanto tempo dura. O que interessa é o que sentes agora.
Validou-me.
Não sei como tal. 30 minutos depois, lá estava eu, em tarde de romance.
Numa vila perdida no nada, onde os estabelecimentos de domingo se resumem a 3 ou 4. Algum tempo depois toda a minha família ocupou as mesas do lado de fora da montra onde me encontrava.
E na hora da partida, o meu avô levantou-se, foi até à minha mesa, e cumprimentou aquele rapaz perdido naquele drama todo: “Eu sou o avô dela”, apenas isso sorriu, apertou a mão e saiu contente, olhando-me sobre o ombro sempre com a cumplicidade que nos unia e mais ninguém nos percebia.
Não sei se por sermos os 2 incompreendidos da família que tinhamos uma relação inigualável naquele sistema.
O meu avô faz parte de quem eu sou, e mesmo já tendo vivido tantos anos com ele, do que sem ele em carne e osso, ele continua a trazer-me mensagens.
Esta noite, lembrei que tinha esta foto aqui perdida no meu arquivo de fotos fotografadas.
E lembrei-me como ele sempre me incentivou a criar, a sonhar, a inventar soluções para tudo.
Sem limites e limitações.
Quantas coisas criámos juntos. Quantas invenções ele reforçou e providenciou que eu fosse mais além.
Na noite passada ao ver esta foto, lembrei-me daquela tarde de inverno, perdida no tempo, num rápido amor.
E percebi que o meu avô também me ensinou, que seu acredito num amor, não faz diferença se aquela pessoa apenas chegou há 5 minutos, que o nosso coração sabe muito mais, e acima de tudo, que não interessa quanto vai durar.
Porque enquanto estiver, é eterno.
Este homem Oscar João de Branco Borges, foi /é o homem que mais influência em quem sou nestes meus 39 anos.
E ensinou-me na sua sabedoria da vida, o que depois descobri na espiritualidade e na ciência.
Não precisamos de anos, meses, semanas nem dias, para saber se encontrámos alguém. Bastam 90 minutos!!!
A forma como sentes os primeiros 90 minutos com alguém, antecipam a relação com essa pessoa. Sabias?
Daqui a 2 semanas eu faço aniversário. E ele faz aniversário 5 dias antes de mim. E enquanto ele cá esteve, faziamos a nossa festa de anos juntos.
Brindando a vida qual como nesta foto.
E brindando à fé no amor.
E assim é!
Com amor,
Judite