O preconceito do amor
Chego da aula do curso de massagem (sim, como acho que ainda tenho poucos saberes estou a explorar um novo )
Brinco com os meus felinos. Encho-os de beijos e eles reclamam. Sorrio e digo que os amo, sabendo que a minha dedicação, demonstrada de forma diferente, ao bom gosto dos gatos, é reciproca.
Ponho uma música bem alta… vou cantarolando, dançando.
Tomo um banho.
Um banho longo e demorado. Lavo umas 3 vezes o cabelo com os devidos passos que me vão permitir alisá-lo hoje, depois de uma semana dos meus fantásticos caracóis ultrarebeldes.
A playlist continua a vagear. O spotify está no domínio. Hoje deixei que fosse ele a escolher.
Saio do banho e vou em modo relax e preguiça até ao quarto, ainda meio sem saber se me apetece fazer amor comigo mesma ou almoçar.
Entretanto fico apenas a olhar no horizonte a pensar no que vou vestir para o compromisso do final do dia e se me visto já ou se ainda vou fazer algo antes. Tendo a tarde toda ainda em livre horário.
A playlist continua a tocar. O mood está naquele folk meloso. O spotify diz que é o “mic relax” mas aos meus ouvidos chega-me Jack Jackson e as suas declaração de amor, canta ele ‘Times Like This’.
A minha mente viaja.
Uma paz invade o meu coração.
O corpo relaxa e sinto uma alegria imensa a percorrer todo o meu ser.
A consciência de que estou como gosto: solteira, sem horas marcadas, mas com algum romance platónico e quente no ar.
Porque sim, porque é quando mais gosto de mim, é quando o meu ser explana a sua essência em prol de tudo o que concretizo.
Hoje podia falar da pressão social para ter um parceiro. E de facto há tanto em redor sobre isso. Ainda hoje de manhã trocava mensagens com uma pessoa, sobre a minha indisposição por ter bebido 2 copos de vinho, e como a maior parte dos sitios não me (co)respondem como os que frequento em Lisboa, em que posso escolher o vinho que me preenche o copo, da mesma forma que uma garrafa. E como ainda vivemos num país que espera que alguém vá acompanhado de férias, a um jantar, a um evento, até ao simples assistir de um filme.
Mas hoje vou falar além do lado pessoal.
Até nos negócios já me tentaram colocar essa pressão.
Os olhares estranhos pelos meus (quase) 39, sem ter provas dadas de relações eternas, que possam validar tudo o resto.
Hoje estava aqui a lembrar de como ao trabalhei ao lado de grandes empresários que me aconselharam a casar para poder ter sucesso, tendo um marido em casa para me dar suporte emocional.
Naquele dia, numa reunião de networking, disse numa apresentação one to one a um outro empresário de quem gosto muito, que sou uma solteira convicta, me respondeu que era porque não conhecia a(s) pessoa(s) certa(s).
Na vivência e aprofundamento da espiritualidade, há todo um conjunto de encaminhamentos para escolhas radicais. De celibato total ou amor para a vida toda.
Em todo o lado há uma pressão para se emparelhar.
Com tão pouca expressão e aceitação de vivências diferentes.
Mas hoje, sentada, ao ouvir aquela música a divagar pela casa. Ao sentir o peito em liberdade.
Liberdade para me amar de verdade , a sós, e poder acrescentar quem de valor vier realmente valorizar a minha vivência.
Sem horas, sem rótulos, sem “ses”.
Amor de verdade. Respeitoso da conexão por ela mesma e não para resposta a preencher nada, nada material ou emocional.
Apenas valorizar.
E nesta consciência, deixo-me cair, aqui, apenas a sorrir para o universo. Feliz por ser completa em mim, nesta condição que os outros rotulam de “solteira”. De coração leve, tranquilo, e cheio, cheio de amor!
Com plenitude e muito amor no coração,
Judite B Rezende