Sou Bruxa

– O que fazes? Quem és? – perguntam
– Sou Bruxa – respondo
– Ah, ah, a sério, quem és? Isso não és, és bonita / alegre…

Quantas conversas já tive assim?

Mas eles não sabem, nem querem saber, que

“Bruxas eram – e são – mulheres empoderadas.
Insubordinadas.
Livres.
Que conhecem as ervas, os mistérios da natureza, da vida, da morte.
Seu corpo, seu ciclo menstrual, seu poder. “

Nos tempos antigos (tal como hoje) “muitas não se casavam. Preferiam viver na floresta com os animais, sozinhas e com as suas plantas.

Recusavam os padrões da normatividade.
As que se casavam certamente não eram submissas aos seus companheiros como as mulheres da época.

Tinham a sabedoria da ancestralidade, curavam doenças, dançavam para a lua, contavam histórias.

Tinham visões, sonhos, intuições.
Eram mulheres, apenas.

Foram perseguidas e mortas na idade média no maior feminicídio já visto, por representarem uma ameaça ao patriarcado. Por saberem o que os homens não entendiam.

Associadas a imagens de feias, assustadoras, velhas, solitárias, loucas e principalmente más.”

Há pouco tempo fui entrevistada por um grupo de trabalho, na área do levantamento para a criação de personagens para teatro.
Passei uma alegre tarde com aquele grupo. De tal forma foi a partilha, que no final, uma das pessoas do grupo, partilhou comigo, que quando me apresentaram, ela pensou: ‘esta não pode ser a bruxa que vamos entrevistar, tão alegre e colorida?!’.
Naquela entrevista nunca tinham ouvido falar da bruxa alegre, conectada com o todo, e de bruxaria natural (e nas suas mentes, e pesquisas, apenas pairava a bruxa do imaginário negro).

“A caça às bruxas foi possivelmente o início do afastamento das mulheres da sua própria essência.”

E para alimentar esse medo, criada a imagem da mulher diabólica.

“Por questão de sobrevivência passaram a renegar a sua natureza selvagem, esconder-se e a ver como amaldiçoado o seu corpo de mulher.

Carregamos a história de todas as mulheres e o fogo da inquisição arde em nós.
Porém dele renascemos! E estamos a resgatar, dia após dia, lua após lua, a nossa força, sabedoria e poder ancestral, que sempre viveu em nós. “

“A Bruxa que vive em mim, saúda a Bruxa que vive em ti!
Bruxastê!”
🙏❤️

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Nota:
Neste texto conjuguei transcrições (interpoladas com as respectivas “”, com observações e vivências minhas)